Acolhimento, Entrada e Fundação Permanente

Coordenação: José Oceli, Livia Rocha e Polliana Jurique

Funcionamento: às sextas-feiras, das 8h às 9h

Texto: Rocha, Antonio Carlos. Dos conceitos freudianos ao objeto da psicanálise. O Seminário de Lacan: travessia – Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Revista Tempo Freudiano nº1 (2002)

Realizado às sextas-feiras, com cada um que participa deste instrumento de formação, o dispositivo “Entrada, Acolhimento e Fundação Permanente” propõe-se a percorrer a rota do desencontro, bem como a do flerte com a impossibilidade de uma formação analítica em série ou recebida passivamente. O dispositivo tenta, portanto, pôr em relevo a cota inexata da diferença que justifica a reunião de trabalho, sem abrir mão do ideal do espírito gregário, mas, pelo contrário, utilizando-se destes ideais como material necessário à queda de narcisismo que pode abrir portas institucionais para os que escutarem o susto de Freud, no que se chama o Inconsciente.

O dispositivo reúne aqueles que chegam, bem como alguns dos que já estão na instituição. Quem chega é, portanto, acolhido diretamente por alguns daqueles que já estão na instituição. Nessa direção, o dever da transmissão dos que os acolhem não exige nada menos que a responsabilização por parte daqueles que a recebem. Não somente por meio desta forma, mas também através deste dispositivo, a fundação da instituição é posta em causa para cada um dos membros e candidatos à formação: a fundação é permanente (nos interessa a possibilidade de escutá-la assim).

Entrar e acolher. O trabalho é de cada um. Cada um, afetado pelo funcionamento da instituição tem então, neste dispositivo, lugar para falar das consequências de seu pedido, da sua entrega. Cada novo material de palavra, isto é, cada entrada, põe em causa a AEPM que, por receber o que há pouco não a compunha, se coloca à prova de se sustentar como um lugar que sirva ao movimento e representação do inconsciente, para além do simples agrupamento ou congregação: a instituição abre-se ao furo, à descontinuidade, ao paradoxo de crer nas vias que ainda não existem e assim comprometer-se com o futuro da transmissão que só se sustentará a cada batida do tempo, a cada ato. A fundação é permanente e, a salvo o álibi da história que também nos sustenta, há o vento forte no terraço que nunca coube na casa. Uma fundação que está posta na entrada, no acolhimento – fundação permanente que se coloca ao “risco” de se tornar letra. A instituição, o que e quem a garante, quando o que a move só pode estar à nossa revelia?

Com a meta de suportar o ético (não fossem as dificuldades que podem torná-lo ideal), este trabalho tenta abrir mão de seus produtos, para se vincular à materialidade de seu processo. É assim que se torna evidente que as diferenças são o que nos põe em união para estudar e falar sobre o quesito institucional de uma associação escola de psicanálise (essa diferença é declaradamente o motor deste trabalho). Eis-nos, outra vez, na interessante tarefa de pensar o verbo “instituir”, que não burocraticamente.

Apoiados no que cada um não sabe de si, creditados na insistência de que seja possível instituir por meio das diferenças no grupo, através dos que, menos crentes no individualismo, podem se submeter a um saber que lhes escape (não mais na conta do incidente, mas na do depósito do Grande Outro que nos contém). Então, há a possibilidade de verificarmos que a entrada, o acolhimento e a fundação são possíveis, exclusivamente, por causa da História da AEPM, do paradoxo entre o salto e o chão, que nos traz até aqui, que nos faz saber de onde viemos e que o dia é hoje. É para além do querer que se abre a possibilidade de escutar que o voto de fundação de cada um só poderia mesmo ser permanente.