Homenagem póstuma ao psicanalista Charles Melman

Alayde Martins, Fabiano Sousa, Isalena Carvalho, Márcio Costa, Valéria Lameira, Livia Costa, Cristiano Silva, Sílvia Furtado

Alguns dias após o falecimento do psicanalista Charles Melman (1931 – 2022), Alayde Martins propôs que cada membro da AEPM que tivesse escrito algo em homenagem a ele levasse seu texto para ser lido no Seminário proferido por ela no dia 28 de outubro de 2022. Sua proposta era de que os textos partissem de algo vindo dele e que tivesse marcado cada um, sua transmissão da psicanálise. Seguem-se alguns dos textos lidos nesse dia:

1. A Charles Melman

Escutei Melman falar algumas vezes o seguinte: “… dizer isso a vocês é uma maldade, mas não me preocupo, vocês esquecerão. ”

Acho que, boa discípula, não lembro. Desse saber que me foi transmitido, não tenho quase nada guardado em meu poder para me ornamentar e mostrar agora como aquisição do meu conhecimento.  No entanto, suas palavras, sua presença, permanecem para mim como lembranças esparsas e marcantes.

“A Psicanálise diz o que é.” Fiquei com essa frase que soou para mim tão incompleta! Hoje eu encontro algo que me interroga assim: a verdade, quando fala, é sempre enigmática, é um semi-dizer que diz tudo, mas que não se dá ao saber, toda.

Não posso imaginar o que ocorrerá na Psicanálise, na ALI, sem a presença de Charles Melman, mas tenho a dimensão dessa perda para todos nós.

Ficamos com suas palavras, as ditas e as escritas e, se seguirmos sua direção, talvez possamos, cada um de seu lugar, fazer um bom uso delas.

Para terminar, trouxe um recorte de sua fala. Como nos propomos a insistir com a proposta de Lacan quanto à formação de cartéis, trouxe alguma coisa sobre isso:

“Quando Lacan fundou sua École, ele desejou que seus membros se organizassem para trabalhar em pequenos grupos de pelo menos quatro mais um, e todo mundo se perguntou: o que é esse mais um? Para que serve? Qual é sua tarefa, seu trabalho? Será que esse um a mais deve ser o que sabe mais? O mestre do pequeno grupo? O que deve distingui-lo dos outros membros, disso que ele chamou de cartel? Com efeito, podemos responder que esse um a mais estava lá para lembrar que em toda troca de saber é preciso levar em conta que esse saber não é fechado, mas que é aberto e que implica uma exclusão, que há ao menos uma questão que esse trabalho não poderá responder. Vocês veem que é uma maneira de tentar prevenir o que poderia ser a segurança narcísica que poderiam adquirir os membros do grupo entre si e com a ideia, que é um narcisismo fácil de partilhar, de que compreendemos tudo. Eu posso lhes dizer que, no grupo que nós formamos na França, meu papel é justamente funcionar como o um a mais, quer dizer, aquele que vem para perturbar a certeza do saber e lembrar que todo sistema formal, e a própria linguagem, que é em si mesma um sistema formal cujos fonemas constituem os elementos, não nos permitem realizar o anseio de Hegel: o do saber absoluto. O problema é que aquele que se acha em posição de exclusão, em posição de ao-menos-um, primeiro escapa à castração, porque está excluído do sistema, quer dizer que, de uma certa maneira, ele já está mortificado. Mas, ao mesmo tempo, se ele escapa à castração, a mensagem que lhe vem, pelo fato de ocupar esse lugar, é a de que ele sabe tudo. ” (Melman. Como nos tornamos paranoicos? p.36).

2. A palavra de Charles Melman

A morte de Charles Melman me fez recordar de vários momentos em que pude trabalhar institucionalmente com alguns textos escritos por ele e também da minha ida ao Seminário sobre A ética da Psicanálise realizado pela Associação Lacaniana Internacional (ALI). Foi lá que, ao escutá-lo pela primeira vez, falando em francês, e tendo ido a esse trabalho com o trabalho realizado institucionalmente na AEPM, foi possível perceber que, naquele momento, pouco importava se eu sabia ou não o francês fluentemente, a fala de Melman incidia sobre mim. Não lembro o que foi dito ali por ele, mas naquele momento era isso que importava: o que estava sendo dito.

E um texto de que me recordo no momento é aquele intitulado Como fazer?, trabalhado institucionalmente no dispositivo “Acolhimento, Entrada e Fundação Permanente”. Um texto curto, mas ao mesmo tempo um texto longo, um texto que serviu de pretexto para um outro texto, o do trabalho na instituição.

Coloco aqui as palavras de Melman: “Um psicanalista é como todo mundo? Certamente, à condição de fazer exceção. É aí que é a sua poltrona, mesmo se por definição, ela não tem traço que a garanta. Essa garantia não pode vir senão de uma coletividade de trabalhadores (qualificativo apagado hoje em dia do léxico político-econômico) apta a produzir a exceção que o tecnicismo recusa. ”

Com essas palavras que em tantos momentos me afetaram, finalizo esse texto.

3. Charles Melman, a morte interrompeu o seu trabalho?

Charles Melman, não o conheci pessoalmente. Ainda assim, seu trabalho atravessa o meu trabalho de formação em Psicanálise – uma travessia que produz cortes e, com os cortes, os efeitos. Como trabalho, não ficarei formada. Formação como ação? Ou ato? Formação como o que não me fará ser psicanalista nem, assim, descobrir o traço comum entre os analistas.

“A essência do psicanalista”, curto texto, mas que, em cada um de seus parágrafos, apresenta um enigma. Pelo impacto do que ali está escrito, não me foi possível não trazer para cá vários trechos.

Não há um “saber sabido” nem pode haver quando o saber de que se trata é do inconsciente. No mencionado texto, Melman descontrói os ideais acerca do que produziria um analista. Um deles é, para mim, um achado. É da análise que pode advir um analista, mas Melman escreveu: “Não se pode julgar pelo tempo de análise pessoal nem pelo renome do didata: a resistência à análise ignora o tempo e despreza a autoridade”.

O passe fracassou, relembra Melman a fala de Lacan. Os membros da instituição de Psicanálise exigem a “entrega do traço um, que legitima o pertencimento”. O procedimento do passe vinha na “contramão daquilo que o tratamento talvez tivesse podido, de sua parte, estabelecer”. A análise não vai dizer o que é um psicanalista. Apenas pode mostrar junto ao laço institucional o que se afasta dos fundamentos instituídos por Freud e Lacan quanto à Clínica Psicanalítica.

“Mas, então, qual pode ser, portanto, o ser daquele que denuncia o semblant das representações, senão o conjunto vazio? ”. Com isso, volto ao micélio, analogia trazida por Freud para ilustrar de onde brota o desejo. A analogia foi feita por Freud no famoso Capítulo VII, no tópico que aborda a resistência por meio do “Esquecimento dos sonhos”. O micélio: um vazio que produz ramificações, ou melhor, como considero pertinente ao que foi escutado por Freud de seus pacientes: associações. Não há na obra de Freud o termo significante. Contudo, ainda que não o tenha empregado, escutou a cadeia de significantes na qual, como cadeia, algo escapa, formando outras cadeias em torno do que não pode ser representado. Associação Livre, regra de ouro da Psicanálise. O que há de livre diante da sobredeterminação inconsciente? Como o inconsciente abre para se fechar, não há como anular o vazio.

Após trazer o conjunto vazio, Melman remete ao logotipo da Associação Lacaniana Internacional – logotipo que, até então, nunca me chamara a atenção. Pela transferência de trabalho em relação ao Melman, conta para a Associação Escola de Psicanálise do Maranhão a transmissão da Psicanálise pela ALI.

Melman também relembra que, para Lacan, não há analistas, há analista. “(…) a marca da relação ao objeto a não é o traço um (esse traço fálico cobiçado pelo candidato), mas a falha, a barra que divide o sujeito”. Estando cada um na AEPM com seu sintoma, sua neurose, é pelo trabalho de cada um que a Psicanálise poderá entrar; ou sair, quando se cala o real em jogo.

Traço um e falo? A formação do analista, se impregnada de ideal fálico, é qualquer coisa, menos Psicanálise. Com a divisão do sujeito, a noção de unidade, de essência, de integridade de um eu forte cai por terra. Cai. Com a queda, perda. Melman “sem compaixão nem piedade” mostrava isso. Com a queda, algo de novo pode surgir. Neste momento em que não podemos mais contar com sua presença, que seu trabalho fique. Como? Pelo trabalho de alguns trabalhadores decididos.

4. A causa entre nós

“Entre nós, a causa vale a pena. ” Foi esse pedaço da fala de Charles Melman, em uma entrevista sobre a história da ALI, que me veio ao pensamento após o seminário e a jornada de trabalho na AEPM nos dias que se seguiram à notícia da sua morte. Foi na AEPM que fiquei sabendo da morte de Melman e me pareceu que Alayde Martins nos deu a chance de dar lugar ao modo particular de cada um lidar com essa perda na instituição, com aqueles com quem trabalhamos em nossa formação.

Na AEPM, costumo ouvir que, quando é o caso de comemorar, comemoramos com o trabalho. O novo para mim foi testemunhar que, entre nós, o luto também é feito assim. Confesso que, às vezes, parece-me beirar o insensato. Mas é que, em um tempo em que as causas não parecem mais ter qualquer apelo, o que diz Melman é que a causa, a que está em jogo na psicanálise, vale a pena. Vale a pena porque nós é que somos causados pela nossa causa e, portanto, não temos opção, a não ser seguir, com o vazio de que nos constituímos e em torno do qual nos sustentamos.

Nessa mesma entrevista, Melman disse ter seguido com o trabalho de Lacan, e permaneceu em seu próprio trabalho referido a seu ensino. O que me trouxe a lembrança de um texto em que ele nos convoca a não agirmos com relação à psicanálise como quem passeia em um jardim, colhendo as flores, mas como quem põe as mãos à obra e tem algo a fazer ali. Fazer série com Lacan, como este propôs que fizéssemos, é se pôr a continuar o trabalho no qual ele engajou sua vida, é se colocar na série que comporta uma falta a ser ressituada. Acho que é o que Melman mostrou. Ele disse que se a psicanálise permanece viva hoje, a culpa é de Lacan. A mim parece que a culpa também é dele.

5. Homenagem a Charles Melman

Hoje, ao ter conhecimento da triste notícia que é a morte do Dr. Charles Melman, me veio à lembrança uma pergunta feita por ele, à época do pico da epidemia de Coronavírus, “A quem culpar? ”

Então, ainda com seu texto em mente, lembro que Freud já havia nos advertido para a interferência incômoda, indesejável da pulsão de morte em nossas vidas, e que Lacan escancara aquilo de que não queremos saber: do sexo e da morte.

Então, mesmo com a dor dessa perda irreparável, com o vazio que é não mais sua presença física, me alegro por ter podido receber de Dr. Melman sua palavra, em mim, jamais morta.

6. Homenagem a Charles Melman

Com que traço dizer “esse é psicanalista”? Melman traz uma lista, que está sempre a nos espreitar: o saber exibido, as interpretações relatadas nos congressos, tempo da análise pessoal, renome do didata, o carisma, apetite pelo poder, talento para seduzir…

O ser daquele que denuncia o semblante das representações é o conjunto vazio. O que de saída é interessante, já que esse nome traz uma contradição, ser um conjunto, juntar nada. Esse nada mantém o desejo, que delega como sua causa os resíduos ali evacuados pelo funcionamento significante.

Os analistas não formam uma união de indivíduos, mas objetos não especularizáveis nem quantificáveis.

Em outro texto nos diz que o psicanalista é como todo mundo, à condição de fazer exceção. E essa é sua poltrona.

7. A palavra viva de Charles Melman

“A palavra é seguramente um ato eminentemente ético, pois ela provoca no ouvinte essa avaliação do quanto de desejo que pode se achar aí engajado”, diz-nos Melman, em seu texto Não ceder em seu desejo. Escrevo “diz” e não o passado do verbo. E me pergunto: por quê? Que tempo é o tempo da palavra? O que me vem é que a palavra, enquanto ato, perdura no que ela acontece, onde, como o curso de um vasto e profundo rio, ela insiste em se fazer desaguar, a cada vez, e para cada um. A palavra de Charles Melman, das vezes em que a li, aqui, e nas poucas vezes que a escutei sendo dita, ALI, ali e aqui, sempre me tocou como uma palavra que faz corte, deixando, em si, um embaraço, palavra na qual a transmissão da Psicanálise se encontra inscrita, insistente, sendo, assim, possível.

Quanto de desejo está engajado na palavra de Melman? Que homem de expressões vivas, olhar agudo e voraz, riso simpático, e presença única! Foi o que pensei ao ouvi-lo falar, vendo seus gestos, pelo Youtube, numa live com o psicanalista Alfredo Jerusalinsky, em 2020, em plena pandemia. No entanto, não foi a simpatia de Melman que fez sua marca ali, em mim, mas o trabalho. Quando li as palavras de Melman, em entrevistas feitas pelo psicanalista Jean-Pierre Lebrun, e que compõem o genial livro O homem sem gravidade – gozar a qualquer preço, suas respostas me fizeram pensar no quanto elas são atuais, o que, por sua vez, me remeteu à atualidade presente nas palavras de Freud. Então, qual o tempo das palavras? Quanto tempo dura o efeito de palavras, como essas de Melman, nesse livro? Parece-me que não se trata de dar peso ao cronológico de um tempo. Penso na marca, no lugar. A marca, isso que permanece num ensino e numa transmissão; o lugar, que fica vazio, deixando um buraco aberto. Lembrei-me agora de uma letra do Milton Nascimento. A canção se chama “A terceira margem do rio” e é baseada no conto homônimo de Guimarães Rosa.

“Água da palavra, água calada, pura

Água da palavra, água de rosa dura

Proa da palavra, duro silêncio, nosso pai”

Trata-se de um duro silêncio e de uma atemporal palavra, que vive.

8. A incidência do texto Como fazer? ”, de Charles Melman, no trabalho da AEPM

[…] il convient […] de distinguer savoir et connaissance. Le savoir vous possède, vous tentez de posséder les connaissances. […]

Le savoir engage la participation du sujet et met en cause son éthique.

À votre idée comment faire passer l’acquisition des connaissances au niveau de leur prise s’imposant à un sujet que dirige son éthique ?[1]

(Charles Melman)

 

Foi preciso sofrermos na pele o que é um lugar vazio para acolher o que Melman nos diz nesse texto. Não basta estar estruturada como uma instituição psicanalítica para dar lugar à psicanálise, nos diz Melman, usando a metáfora “poltrona/assento”. Não basta termos um lugar físico, estatuto, membros, trabalhadores incansáveis da psicanálise. Não basta. Lembrando da própria história da psicanálise, o que nos diz Melman? Que são mesmo os guardiões da psicanálise os que a detratam, ignorando o analítico no seio da instituição. E nos traz nada menos do que Anna Freud, a filha de Freud, como exemplo de que essa transmissão pode errar, até mesmo com os descendentes de sua fonte.

Insisto um pouco nesse ponto. O que nos sustenta no trabalho de uma instituição? Quanto à AEPM, Alayde Martins nos enumera: “o laço transferencial, o discurso psicanalítico”. E o que nos associa? “O sintoma de cada um, nossas grandes e pequenas diferenças”.  Mas, ainda assim, um terceiro ponto, que ela levanta, a falta, diz respeito a esse lugar que não é sem ela que se mantém aberto, que nos convoca no mesmo ponto em que nos angustia, e a cito ainda: “e que teria nos fisgado no mesmo anzol, sem fazer de nós um cardume”. E foi assim que passamos por este texto de Melman. Mas, se este é um ponto central no texto, há outros pontos que reverberaram quando o trabalhávamos em um momento de passagem.

No segundo parágrafo, Melman destaca que esse “divórcio” com o analítico advém da dificuldade que alguns psicanalistas encontram em estar fora da comunidade científica.  Quantos entraram na psicanálise e viraram as costas para ela em prol de um interesse particular?  Ex-psys que saíram das instituições psicanalíticas e viraram “cadáveres que boiam” diz Melman, pelas instituições culturais, resvalando pela psicanálise sem pagar o preço.

Lembro aqui de um analisando, professor da universidade. Em determinando momento, não fazia muito sentido para ele estar ali na análise, nem na instituição; ele mostrava claramente que tinha alcançado o que era a psicanálise em seu funcionamento e chegado a seu preço. Devemos nos livrar dos cadáveres que “boiam de barriga estufada” na instituição, que são pessoas que estiveram na instituição e, em determinado momento se renderam ao preço do “prestígio” do saber coroado. Naquele momento de debandada, contamos com poucos e não desistimos. Foi duro, mas suficiente. Valeu, perdura a psicanálise.

Melman, ao falar-nos do Préaut, nos mostra como o trabalho realizado por essa instituição foi tomando o rumo da Universidade, ao ponto de sua direção fazer o pedido para que “renunciássemos à nossa linguagem” e que se tratava de levar a psicanálise para a universidade, contanto que não tivesse psicanálise.  Ou seja, seria preciso se “adequar ao discurso da universidade”. Como alguém pode ser destituído de um cargo de presidente de honra de uma instituição?

Mas fica o que Melman nos diz: “um psicanalista é como todo mundo? Certamente, salvo à condição de fazer aí exceção”; e acrescenta: “é esse o seu lugar, mesmo que por definição ele não tenha um traço que o garanta”.

Nesse ponto, Melman retorna ao que trouxe de início, o lugar de exceção é esse lugar que não tem um traço comum que garanta o que é um analista, mas, ao mesmo tempo, é possível saber quando se está diante de um analista. E Melman diz que essa garantia advém de uma coletividade de trabalhadores, e aqui lembro que Lacan diz que uma coletividade não é uma generalidade no texto do Tempo Lógico, e que a exceção possível de produzir é aquela que a técnica recusa. Não há parâmetro, há lugar e posição.

Por fim, Melman vai propor uma organização, a qual chama de Bureau, um modo de organização que ultrapassa a organização que se tornou legal a partir da lei de 1901, qual seja, “aquela derivada dos princípios da nossa disciplina”. Aqui, então, Melman diz que vai propor algo derivado do princípio da psicanálise, que é diferente daquela proposta a partir da lei de 1901. Do que se trata?

Voltando à proposta que Melman vai fazer ao Bureau, vimos que a lei à qual ele se refere como ultrapassada é a lei de 1 de julho de 1901 que estabelece as normas para as associações sanitárias e sociais na França. E ele nos diz que é preciso que nos voltemos para uma proposta associativa que advenha dos princípios da psicanálise. E a sua proposta nessa direção, diz ele, retoma a tripartição da democracia que, em sua origem ateniense, assegura a vacuidade da poltrona de um chefe cujo encargo é assegurado alternadamente pelos membros do Diretório.

A tripartição democrática à qual se refere Melman, creio que seriam os traços fundamentais do regime democrático ateniense, a saber: a isegoria, a isonomia e a isocracia, ou seja, todos tinham o direito à palavra, a igualdade perante a lei e a participação no exercício do poder.

Melman não diz que é baseado na democracia ateniense, mas que ela é mais derivada dos princípios da nossa prática, invertendo assim a ordem da história.

A partir dessa proposição, Melman propõe um funcionamento institucional para ALI de três instâncias: uma direção, um executivo e um conselho. E termina com as seguintes palavras:

Isto é, naturalmente, para ser provado e, enquanto eu puder, tentarei contribuir.

E foi a partir do trabalho com esse texto que começamos a proposta de um novo funcionamento, e, como nos diz Lacan na Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola, o novo só se institui no funcionamento.

 

[1] […] convém distinguir saber e conhecimento. O saber possui vocês, vocês tentam possuir o conhecimento. […]

O saber engaja a participação do sujeito e coloca em causa a sua ética.

Na sua opinião, como fazer passar a aquisição do conhecimento ao nível do que se impõe a um sujeito orientado pela sua ética?